terça-feira, 19 de junho de 2007

Essa é a história de Aníbal



Aníbal era um mendigo. E ele andava pelo centro da cidade. Quando era ainda jovem, por causa de promessas de emprego veio de pau-de-arara da Bahia para o interior do Rio. Lá trabalhou em sistema de servidão na plantação de cana até os trinta. Fugiu com dois amigos para a cidade da Guanabara – na época capital do país- com promessas de enriquecimento fácil. Aníbal e seus amigos não sabendo o que era ser rico, primeiro arrumaram um emprego em uma gigantesca fábrica de tecidos. Ali Aníbal ficou mais vinte anos. Durante esse tempo, as únicas coisas que pôde fazer nos intervalos foi frequentar os cabarés baratos da lapa e os quiosques de praça. A cachaça, as francesas e as polonesas, foram comparsas da dormência de Aníbal durante todo esse tempo. Um dia a fábrica faliu e todos foram mandados embora. Quando saiu o mundo já era outro. A guanabara não era mais a capital e ainda havia mudado de nome. Estava maior, mais suja. Aníbal, o único sobrevivente dos três amigos que haviam vindo do interior, após deixar para trás os portões da fábrica percebeu que estava sozinho no mundo outra vez. Ou será que nunca havia deixado de ser? Pelo menos, depois que a fábrica faliu, ele encontrou a única coisa definitiva que teria na sua vida dali para frente: a rua seria a sua casa. Mas Aníbal era forte e sobreviveu muito tempo ainda comendo papelão recheado com lixo e restos de restaurante. Pediu muita moedinha na porta do banco e cheirou crack na avenida Chile debaixa do elevado, até que – já muito velhinho – se estabaleceu em um pequeno barraquinho localizado em um rua de trânsito intenso. Rapidamente as pessoas que costumavam passar ali se acostumaram com ele; o comércio em volta e os moradores o conheciam e o respeitavam e o cumprimentavam : - Bom dia, seu Aníbal. Tudo bem com o senhor?

Ele respondia com um ‘sim’ meio rabujento porém amigável. Ali viveu muitos anos também. Mas um dia algo de estranho aconteceu. De manhã ouviram seu Aníbal dando gargalhadas no meio da rua. Ninguém entendeu nada. Entenderam menos ainda quando perceberam que seu Aníbal havia sumido. Uns disseram que ele saiu andando e não voltou mais, outros que seu Aníbal morreu e que o lixeiro havia levados seu corpo por engano pensando que era um trapo velho e fedido. Mas também disseram que haviam visto o velho andando pelo castelo uns dias depois. Eu mesmo quando ando pelo centro, até hoje ainda vejo seu Aníbal andando por aí.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

...e, enfim, tudo tem seu começo...

ABRIRAM AS PORTAS DO SANATÓRIO!!!
mas esqueceram de avisar o louco,
ou será que ele não quis sair?
ele procurava um fim para tudo o que começou
procurava as resposta para as perguntas feitas do tico para o teco
e que os dois juntos nunca haviam descoberto nada a respeito
procurou em cada canto um caminho que o levasse
a maldita sanidade
e, enfim, concluiu:
- Se todos são loucos então para onde vou quando sair daqui?
por isso que aquele louco morreu velhinho, sozinho e feliz no sanatório.